25 de fev. de 2008

A Caverna de Platão

A caverna da alegoria é uma habitação. As pessoas vivem ali cegas do que se passa ao seu redor. Não têm experiência do que vivem e por isso podemos dizer que não habitam. Olham as sombras projetadas no fundo da caverna como se fossem as coisas reais. Para elas tanto faz o que acontece.
Quando Platão desenvolve essa narrativa [República], seu interesse é dizer que as idéias, não as coisas, é que são verdadeiras; que há algo mais verdadeiro além do mundo que a visão alcança. Hoje em dia podemos resumir a idéia de Platão à desatenção que temos pelo mundo que nos cerca.


Contribuição: Helena Tuler

20 de fev. de 2008

big brother

“Desde que se começou a escrever a história, e provavelmente desde o fim do Período Neolítico, tem havido três classes no mundo, Alta, Média e Baixa. Têm-se subdividido de muitas maneiras, receberam inúmeros nomes diferentes, e sua relação quantitativa, assim como sua atitude em relação às outras, variaram segundo as épocas; mas nunca se alterou a estrutura essencial da sociedade. Mesmo depois de enormes comoções e transformações aparentemente irrevogáveis, o mesmo diagrama sempre se restabeleceu, da mesma forma que um giroscópio em movimento sempre volta ao equilíbrio, por mais que seja empurrado deste ou daquele lado.
Os objetivos desses três grupos são inteiramente irreconciliáveis. O objetivo da Alta é ficar onde está. O da Média é trocar de lugar com a Alta. E o objetivo da Baixa, quando tem objetivo – pois é característica constante da Baixa viver tão esmagada pela monotonia do trabalho cotidiano que só intermitentemente tem consciência do que existe fora de sua vida – é abolir todas as distinções e criar uma sociedade onde todos sejam iguais. Assim, por toda a história, trava-se repetidamente uma luta que é a mesma em seus traços gerais. Por longos períodos a Alta parece firme no poder, porém mais cedo ou mais tarde chega um momento em que, ou perde a fé em si própria ou sua capacidade de governar com eficiência, ou ambas. É então derrubada pela Média, que atrai a baixa ao seu lado, fingindo lutar pela liberdade e a justiça. Assim que alcança a sua meta, a Média joga a baixa na sua velha posição servil e transforma-se em Alta. Dentro em breve uma nova classe Média se separa dos outros grupos, de um deles ou de ambos, e a luta recomeça. Das três classes, só a Baixa não consegue nem êxitos temporários na obtenção de seus ideais. Seria exagero dizer que não se registra na história progresso material. Mesmo hoje, neste período de declínio, o ser humano comum é fisicamente melhor do que há alguns séculos. Mas nenhum progresso em riqueza, nenhuma suavização de maneiras, nenhuma reforma ou revolução jamais aproximou um milímetro a igualdade humana. Do ponto de vista da Baixa, nenhuma modificação histórica significou mais do que uma mudança do nome dos amos.”
trecho de 1984, de George Orwell

De lagarta a borboleta

"A primeira coisa que se torna evidente depois de olhar e observar é que sequer conseguimos seguir o sistema, religião ou ideologia que defendemos com tanto ardor. Você tem suas inclinações, tendências e pressões peculiares, que colidem com o sistema que julga seguir portanto, existe uma contradição básica. Você tem assim uma vida dupla, entre a ideologia do sistema e a realidade de sua vida diária, diz ele. No esforço para se ajustar à ideologia (ou religião, ou doutrina), você recalca a si mesmo, seu ser verdadeiro. Sua essência é massacrada por um milhão de vozes: de sua personalidade, da sociedade, de sua própria consciência fragmentada. No entanto, o que é realmente verdadeiro não é a ideologia, mas aquilo que você é."

Trecho de texto publicado na revista Vida Simples.
Na íntegra aqui.

Contribuição: Helena Tuler

19 de fev. de 2008

mas por quê?


e daí




e daí




ou pior...


e daí

e daí



mas por quê? se...



mas como? hein?...

13 de fev. de 2008

O novo. Ser?

Criar o que não existe ainda deve ser a pretensão de todo sujeito que está vivo.
Paulo Freire

Deixar de sonhar é necessariamente cair na realidade?
Se o sonho ao menos deixasse a timidez, passasse por cima das delicadezas próprias do que não acredita-se valioso e promissor, brandasse contra o que incomoda, desse um "chute no lirismo" e colocasse as manguinhas de fora...
Uma arquitetura bonitinha, pega daqui uma referência, rouba dali uma tendência, essa corrente teórica tá com tudo... Voilá! Temos um ótimo produto!
Linhas que viram um novo punhado de tijolos empilhados (ou aço, madeira, vidro, titânio que seja) não é por si só novidade.
O que você pretende para tocar outros humanos?

11 de fev. de 2008

É o que dizem por aí...

10 de fev. de 2008

A brasa isolada

"A força do grupo

Um membro de um determinado grupo ao qual prestava serviços regularmente, sem nenhum aviso deixou de participar.

Após algumas semanas, o líder do grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem em casa sozinho, sentado diante de um brilhante fogo.

Supondo a razão para a visita, o homem deu-lhe boas-vindas, conduziu-lhe a uma grande cadeira perto da lareira e ficou quieto esperando. O líder se fez confortável mas não disse nada. No silêncio sério, contemplou a dança das chamas em torno da lenha ardente.

Após alguns minutos, o líder examinou as brasas, cuidadosamente apanhou uma brasa ardente e deixou-a de lado. Então voltou a sentar-se e permaneceu silencioso e imóvel. O anfitrião prestou atenção a tudo, fascinado e quieto.

Então diminuiu a chama da solitária brasa, houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou de vez. Logo estava frio e morto.

Nenhuma palavra tinha sido dita desde o cumprimento inicial. O líder antes de se preparar para sair, recolheu a brasa fria e inoperante e colocou-a de volta no meio do fogo. Imediatamente começou a incandescer uma vez mais com a luz e o calor dos carvões ardentes em torno dela.

Quando o líder alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse: 'Obrigado tanto por sua visita quanto pelo sermão. Eu estou voltando ao convívio do grupo'."


Autor desconhecido.
Contribuição: Babi

O mundo não mudou - Pato Fu

"Leio livros complicados
Faço teses, faço juras
Mas não, oh não
Mundo não mudou
Pego em armas, dou meu sangue
Jogo bombas e granadas
Mas não, oh não
Mundo não mudou
Vou pra rua, vou pra praça
Grito hinos, grito frases
Mas não, oh não
Mundo não mudou
Fico em casa, cheiro incenso
Canto mantras, ligo chakras
Mas não, oh não
Mundo não mudou
Vou pra festa, queimo plantas
Tomo todas, tomo tudo
Mas não, oh não
Mundo não mudou"


postado por garé

8 de fev. de 2008

A Cidade do Homem nú

Flávio de Carvalho

(...)

Convido os representantes da América a retirar as suas máscaras de civilizados e pôr à mostra as suas tendências antropófagas, que foram reprimidas pela conquista colonial, mas que hoje seriam o nosso orgulho de homens sinceros, de caminhar sem deus para uma solução lógica do problema da vida da cidade, do problema da eficiência da vida.

1 de fev. de 2008

Bom Carnaval!

(...)
Americanos são muito estatísticos
Têm gestos nítidos e sorrisos límpidos
Olhos de brilho penetrante que vão fundo
No que olham, mas não no próprio fundo
Os americanos representam boa parte
Da alegria existente neste mundo
Para os americanos branco é branco, preto é preto
(E a mulata não é a tal)
Bicha é bicha, macho é macho,
Mulher é mulher e dinheiro é dinheiro
E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se
Concedem-se, conquistam-se direitos
Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime
E dançamos com uma graça cujo segredo
Nem eu mesmo sei
Entre a delícia e a desgraça
Entre o monstruoso e o sublime
Americanos não são americanos
São velhos homens humanos
(...)


Trecho de "Americanos", Caetano Veloso.